Inspirado por um obscuro romance que fazia uma crônica sensível da vida modorrenta de uma minúscula cidadezinha no Texas, “A Última Sessão de Cinema” (The Last Picture Show, EUA, 1971) é o tipo de filme que não poderia ter sido feito alguns anos antes. Trata-se de uma das obras seminais da geração de jovens cineastas que mudou Hollywood, na virada entre as décadas de 1960 e 70, eliminando qualquer traço de glamour e melodrama de suas história e dedicando-se a levar para as telas de cinema a atmosfera da vida real dos anônimos. Em suma, um filme com cheiro de rua.
O tédio e a falta de perspectiva da vida numa cidade pequena é o tema principal de “A Última Sessão de Cinema”. Para capturar o clima melancólico e o vazio emocional dos personagens, Bogdanovich fez três escolhas estéticas essenciais: decidiu filmar em preto-e-branco e em locação, além de fazer o filme sem trilha sonora. Do ponto de vista técnico, era um tremendo risco. Na época, acreditava-se piamente que os filmes em P&B haviam morrido para sempre, e não existia mais equipamento para filmar sem cores. Além disso, nenhum executivo em sã consciência permitia um longa-metragem sem música, sem falar que filmar fora dos estúdios era muito mais caro.
Mesmo assim, Bogdanovich bateu o pé. Ele não estava fazendo uma história épica, mas um filme simples, quase minimalista, sobre gente comum. Por sorte, as condições ajudaram. A revolução trazida pelos jovens cineastas encontrava eco no público, naqueles tempos, e os estúdios se permitiam ousadias mais arrojadas. Desta forma, tudo foi feito da maneira que o cineasta planejou, inclusive com as filmagens ocorrendo na cidade de Archer City, local onde o escritor do livro original (promovido também a roteirista) havia passado a infância. Desta forma, os jovens atores que compunham o elenco puderam inclusive ter contato com as pessoas que haviam inspirado os personagens fictícios.
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