“Um motorista, parado no sinal, subitamente se descobre cego. É o primeiro caso de uma ‘treva branca’ que logo se espalha incontrolavelmente. Resguardados em quarentena, os cegos vão se descobrir reduzidos à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas”.
O que você faria se subitamente se descobrisse cego? E se isso acontecesse no meio da rua, entre dezenas e dezenas de pessoas desconhecidas passando ao seu redor e sem que você tivesse uma plena consciência das ruas, dos automóveis, das calçadas ou de qualquer obstáculo que poderia aparecer ao longo do seu caminho? E o pior de tudo é imaginar que tudo teria acontecido sem mais nem menos, ou seja, sem que qualquer sintoma anterior tivesse lhe alertado da possibilidade da cegueira...
“Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso”, disse o escritor José Saramago, por ocasião da apresentação pública do seu romance “Ensaio sobre a Cegueira”.
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